D. Pedro II e sua relação com a Proclamação da República
Ao fazer uma análise do período denominado Segundo Reinado
no Brasil encontramos a figura do imperador D. Pedro II, o homem que governou
durante quase meio século o único império do continente americano, assumiu o
poder com menos de 15 anos em fase turbulenta da vida nacional e foi deposto e
exilado aos 65 anos, deixando consolidada a unidade do país, abolidos o tráfico
e a escravidão, estabelecidas as bases do sistema representativo e a liberdade
de imprensa.
Refletindo sobre a vida de D. Pedro II percebe-se que por
detrás daquela máscara de imperador havia um ser humano marcado por tragédias
domésticas, com contradições e paixões, amante das ciências e das letras. Este
foi o cidadão comum Pedro de Alcântara que evitava as pompas do poder, mas que
aos olhos do país era o imperador.
Segundo José Murilo de Carvalho, no livro D. Pedro I: Ser ou
não ser, foi em meio a estas contradições que ele entregou-se persistentemente
a tarefa de governar o Brasil. “Ele o fez com os valores de um republicano, com
a minúcia de um burocrata e com a paixão de um patriota.” (CARVALHO, 2007, pag.
10)
Criado de maneira rígida, com elevados conceitos de moral e
religião. Era um menino de saúde frágil que aos 5 anos de idade foi deixado no
Brasil por seu pai D. Pedro I e sua madrasta Dona Amélia de Leuchtemberg. Ficou
entregue inicialmente a tutela de José Bonifácio de Andrada e Silva. Pouco
tempo depois o Marques de Itanhaém passa a ser seu novo tutor, que se esmera em
sua educação preparando-o para assumir o governo do país. Já aos 14 anos tem
antecipada sua maioridade, em 9 dias de festejos terminando com um grande baile
de gala no Paço da Cidade.
Depois da infância cercada de bajuladores da corte, acontece
o casamento por procuração, outro grande golpe na vida do jovem monarca. A
princesa napolitana Teresa Cristina Maria de Bourbon, filha do rei das duas Sicília
aceitou o convite, embora ao vê-la D. Pedro tenha sido abatido por profunda
decepção foi sua companheira durante toda a vida. Tiveram quatro filhos, porém
sobreviveram apenas Leopoldina e Isabel.
O reinado de D. Pedro II foi marcado por transformações de
ordem social e econômica decisivas para a história do país, tais como a Guerra
do Paraguai e a abolição da escravidão.
A partir de meados do século XIX D. Pedro passou a enfrentar
descontentamentos de grupos sociais que pregavam a derrota da monarquia. E
apesar de gozar de boa imagem entre a população, especialmente junto as camadas
mais pobres, foi inevitável a Proclamação da República e o ex-imperador junto
com sua família acabam sendo privados de permanecer em sua pátria.
Joaquim Nabuco foi quem melhor definiu a postura de D. Pedro
II à frente dos destinos do Brasil: “Durante 50 anos o povo encontrou o
Imperador sempre de pé, na Galeria São Cristóvão, ou no Paço da Cidade, ouvindo
a todos, sem enganar ninguém.”
Mas o fato é que a Monarquia chegou ao fim. Seria obra do
destino? O Imperador de certa forma teria deixado acontecer? Ou foi
exclusivamente causada por aquelas tradicionais três questões, a abolição, a
religião e a questão militar?
Esta problemática é questionada analisando o período
denominado por alguns pesquisadores como o fastídio, o provável começo do fim,
entre os anos de 1870 e 1889.
Segundo a historiadora Lilia Moritz em seu livro As barbas
do Imperador, é mencionado que ao ter trocado o manto imperial pelas veste de
cidadão, estaria D. Pedro de algum modo anunciando a decadência de seu império.
Todo o regime político se fundamenta em utopias, ideologias, mitos símbolos e
alegorias, portanto o Imperador não deveria parecer uma simples pessoa.
Neste sentido José Murilo de Carvalho demonstra que o
Imperador teria preparado o Brasil para a democratização, justificando-se
através de suas ações incluindo a abolição da escravatura, que embora não seja esclarecida
como uma iniciativa sua, ele teria deixado acontecer e também de certa forma
“estabelecido as bases para um sistema representativo graças à ininterrupta
realização de eleições e à grande liberdade de imprensa.” (CARVALHO, 2007, pág.
9)
Historiadores de diferentes correntes concordam em atribuir
à D. Pedro II como sendo um dos responsáveis pela dissolução do prestígio da
monarquia pelo fato, já mencionado, da recusa de cerimônias o que na época
agradava aos olhos do povo, a preferência pelas artes e ciências ao envolver-se
na política tão somente, ou também as viagens para o exterior a partir de 1871,
quando descobre um outro mundo que o fascina intelectualmente, embora algumas
tenham sido em função de tratamentos médicos, mas acabam tornando-se um ponto
fraco em seu governo.
Desta forma é preciso ir além da visão tradicional que traz
as causas para o fim deste governo em nosso país, há muito mais do que as
questões tradicionalmente apresentadas, há também a possibilidade de um receio
ao ver um estrangeiro ocupando o trono, Conde d’ Eu esposo da princesa Isabel,
ou as agravas dissensões entre liberais e conservadores nos gabinetes, como
mostra Heitor Lyra em seu livro História de D. Pedro II.
O monsenhor e deputado Joaquim Pinto de Campos em seu livro
publicado ainda durante a vida do Imperador, Biografia de D. Pedro II,
Imperador do Brasil, D. Pedro respondeu: “Que medo poderia ter de perder o
poder. Muito melhores reis do que eu tem o perdido, e eu não lhe acho senão o
peso duma cruz que carrego por dever.” (CAMPOS, 1871, pág. 15)
Justificando-se pelo papel que D. Pedro representou para
nosso país, um monarca com grande prestígio moral, pelo seu patriotismo, pela
preocupação com os interesses nacionais principalmente a cultura do país,
sabendo que sem educação não há progresso, mesmo devido as deficiências que a
política da época apresentava, partindo do estudo da vida do Imperador
procura-se analisar as questões que levaram ao fim da monarquia no Brasil,
contribuindo desta forma para a construção de um conhecimento baseado em fontes
variadas, mas sem a intenção de uma verdade absoluta e sim a compreensão destes
fatos. A pesquisa investigativa vai além das hipóteses estabelecidas pelos
documentos históricos, é também feita de suposições pautadas nos fatos até
então tidos como relevantes.
Portanto este texto procura lembrar que não há uma verdade
absoluta na história, documentos são forjados, provas são criadas e é preciso
cautela antes de julgar qualquer acontecimento ou personagem histórico. Neste
caso, faz-se um contraponto entre a vida pessoal, política e as questões
externas e internas que contribuíram para o fim da monarquia. E através destes
questionamentos buscou-se conhecer um pouco mais deste importante período de
transição na história do país, através do cidadão brasileiro D. Pedro II e sua
função de Imperador do Brasil.
REFERÊNCIAS:
CAMPOS, Joaquim Pinto de. Biografia do Senhor D. Pedro II, Imperador do Brasil, Porto:
Typographia Pereira da Silva, 1871.
CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II: Ser ou não ser, Companhia das Letras, 2007.
LYRA, Heitor. História
de Dom Pedro II, 1825 – 1891, São Paulo: Companhia Editora Nacional.
SCHAWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos – São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
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