sábado, 7 de novembro de 2015

Fábula e dobraduras

O RATINHO, O GATO E O GALO

 Certa manhã, um ratinho saiu do buraco pela primeira vez, pois queria conhecer o mundo. Admirou a luz do sol. O verde das árvores, a correnteza dos ribeirões, a habitação dos homens. E acabou penetrando no quintal duma casa de roça. Examinou tudo cuidadosamente. Em seguida, notou no terreiro um certo animal de belo pelo, que dormia sossegado ao sol. Aproximou-se dele e farejou-o.   Nisto, apareceu um galo, que bate as asas e canta. O ratinho, por um triz, não morreu de susto. Arrepiou-se todo e disparou para a toca. Lá contou a mamãe as aventuras do passeio:

- Observei muita coisa interessante – disse ele – mas nada me interessou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um, de pelo macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da nossa gente e lamentei que estivesse a dormir, impedindo-me assim de cumprimentá-lo.O outro, era um bicho feroz, de penas amarelas, bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentas, abriu o bico e soltou um cócóricó tamanho, que quase caí de costas. Fugi, percebendo que devia ser o famoso gato que tamanha destruição faz no nosso povo.A mamãe rata assustou-se e disse:– Como te engana, meu filho! O bicho de pelo macio e ar bondoso é que é o gato! O outro, barulhento e espaventado, de olhar feroz e crista vermelha, é o galo, uma ave que nunca nos fez mal nenhum. Adaptação (LOBATO, Monteiro. Fábulas e histórias diversas. In: Obras completas de Monteiro Lobato. São Paulo: Brasiliense, 1952. V. 15). 






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