Fábula e dobraduras
O RATINHO, O GATO E O GALO
Certa manhã, um ratinho saiu do buraco pela primeira vez, pois queria
conhecer o mundo. Admirou a luz do sol. O verde das árvores, a correnteza dos ribeirões, a
habitação dos homens. E acabou penetrando no quintal duma casa de roça. Examinou tudo cuidadosamente. Em seguida, notou no terreiro um certo animal de
belo pelo, que dormia sossegado ao sol. Aproximou-se dele e farejou-o. Nisto, apareceu um galo, que bate as asas e canta. O ratinho, por um triz, não morreu de susto. Arrepiou-se todo e disparou para a
toca. Lá contou a mamãe as aventuras do passeio:
- Observei muita coisa
interessante – disse ele – mas nada me interessou tanto como dois animais que
vi no terreiro. Um, de pelo macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um
desses bons amigos da nossa gente e lamentei que estivesse a dormir,
impedindo-me assim de cumprimentá-lo.O outro, era um bicho feroz, de penas amarelas,
bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentas,
abriu o bico e soltou um cócóricó tamanho, que quase caí de costas. Fugi,
percebendo que devia ser o famoso gato que tamanha destruição faz no nosso
povo.A mamãe rata assustou-se e disse:– Como te engana, meu filho! O
bicho de pelo macio e ar bondoso é que é o gato! O outro, barulhento e
espaventado, de olhar feroz e crista vermelha, é o galo, uma ave que nunca nos
fez mal nenhum. Adaptação
(LOBATO, Monteiro. Fábulas e histórias diversas. In: Obras completas de
Monteiro Lobato. São Paulo: Brasiliense, 1952. V. 15).
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