quinta-feira, 17 de março de 2016

Trabalho de História                  

As mulheres na Idade Média

     A sociedade medieval era patriarcal (8) e a relação feminina no seio social, conjugal e familiar dependia da posição econômica que a família ocupava, apesar de seus bens serem administrados por homens. Também não lhes era permitido exercer cargos públicos ou de liderança. Características estas que, em conjunto com a cultura cristã, definiram o que seria a mulher na Idade Média.

     A mulher era, na definição religiosa, naturalmente inferior ao homem, desempenhando papéis e funções diferentes das do homem e sempre bem definidas, normalmente limitadas ao trabalho doméstico. A roca, instrumento que simbolizava o trabalho doméstico, estava consequentemente relacionada ao trabalho feminino.
     Patriarcal, a sociedade medieval era dirigida e controlada por homens que tinham o direito de castigar as mulheres como a uma criança, a um doméstico ou a um escravo, tornando-se um direito de justiça inquestionável, primordial, absoluto. O homem deveria ser governado apenas por Deus, enquanto a mulher que estava relacionada à sensibilidade, deveria ser governada pela inteligência masculina. As diferenças entre idade, riqueza, educação ou atividades praticadas, determinavam os direitos e deveres impostos às mulheres.
     A personalidade feminina, herdeira da queda do homem, na qual o mito de Eva tem um papel negativo central, era apresentada por meio de termos depreciativos, tais como: perigosas, fracas, instintivas, frágeis, astuciosas, encrenqueiras, inconstantes, sensuais, infiéis e fúteis. A sensualidade sempre esteve no centro das reprovações contra o feminino, pois o desejo era obra do diabo e a mulher era a inspiradora do desejo, o que fazia dela a causadora da danação eterna do sexo masculino e da humanidade.
     Todas as mulheres eram por natureza herdeira de Eva, uma pecadora, maldita, mas havia também na sociedade medieval a imagem de Maria, mãe de Jesus, modelo de perfeição e santidade, considerada a redentora de Eva, vinda ao mundo com a missão de livrar as mulheres da maldição da queda. Na Idade Média, desenvolveu-se a ideia de que Maria era a mãe da humanidade, de todos aqueles que viviam na graça de Deus.   Um exemplo de mãe, pois era a mãe do filho de Deus, simbolizava a pureza e a humildade e ao longo da Idade  Média sua imagem foi ganhando popularidade. Associavam-na à autoria de milagres. Era vista como dama por excelência, bela de corpo e de rosto, um ideal a ser atingido pelas mulheres comuns. Era obediente e submissa à vontade divina e por isso não morreu como os outros homens, mas ascendeu aos céus por não ter pecado.
     A Igreja, ao criar essas duas representações femininas tentava impor a disciplina e a obediência como forma de controle dos comportamentos sociais cristãos. Com a instituição do casamento pela Igreja, a maternidade e o papel da boa esposa, estes passaram a serem exaltados, muito ligados à imagem de Maria. Eva, porém, era vista como um exemplo a não ser copiado, um ser pecador, incapaz de resistir às tentações, sendo necessário submetê-la à tutela masculina. Todas as mulheres já nasciam com o estigma do pecado herdado por Eva e conforme a Igreja pregava, deveriam buscar Maria como referencial a ser atingido. Ou seja, a imagem da mulher fraca e medíocre era substituída pela mulher pura, submissa e temente a Deus. Assim, a Igreja acreditava que estaria controlando os comportamentos femininos e disseminando a culpa pela origem do pecado, isentando o homem de quaisquer responsabilidades. Porém, muitas mulheres ousaram desafiar essas imagens tão bem construídas pela Igreja, que soube se valer destes conceitos para se manter no controle e poder social.
     Muitas mulheres como Herrad de Landsberg passaram a exercer atividades essencialmente masculinas e romperam com a imagem de submissão ao homem, que a Igreja e a sociedade insistiam em impor. Muitas mulheres também passaram a administrar seus bens, as que detinham grande poder aquisitivo patrocinavam atividades artísticas, bem como obras literárias, fazendo com que o movimento cultural formado por mulheres crescesse largamente, como Christine de Pisan. Com a literatura, foi possível observar os pensamentos femininos na Idade Média e outras imagens da mulher que se contrapunha as visões depreciativas do sexo feminino. Ou seja, ações isoladas ou coletivas dirigidas contra a opressão das mulheres podem ser observadas em diversos momentos da História e inúmeras mulheres resistiram, denunciaram as injustiças sofridas pelas mulheres, traçaram caminhos diferentes daqueles que a sociedade ditava como os únicos legítimos. Lembrar dessas mulheres, é lembrar de que podemos e devemos sempre lutar por direitos e igualdade de gênero (9).





GLOSSÁRIO:
(1) misoginia: repulsa ao gênero feminino;
(2) Precursora: a primeira a fazer alguma coisa;
(3) Abadessa: Superiora de um mosteiro de religiosas, intitulado abadia;
 (4) Abadia: eram os mosteiros governados por um abade ou abadessa;
(5) Claustro: parte da arquitetura religiosa do mosteiro destinada ao isolamento;
(6) Iluminura ou miniatura é um tipo de pintura decorativa, frequentemente aplicado às letras capitulares no início dos capítulos dos códices de pergaminhos medievais. O termo se aplica igualmente ao conjunto de elementos decorativos e representações imagéticas executadas nos manuscritos, produzidos principalmente nos conventos e abadias da Idade Média. A sua elaboração era um ofício refinado e bastante importante no contexto da arte medieval.
(7) Compêndio: Coletânea de conhecimentos;
(8) Patriarcal: onde o pai tem o poder absoluto sobre a casa;
(9) Gênero: Conceito formulado nos anos 1970 com profunda influência do pensamento feminista. Ele foi criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura. Assim, gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos.


Pintura Medieval:



A primeira imagem, datada em 1410d.C.–1411d.C, destaca a participação de Christine de Pisan na luta pela valorização da mulher na sociedade medieval. Christine de Pisan foi uma poetisa e filósofa italiana que viveu na França na primeira metade do século XIV, conhecida por criticar a misoginia (1) presente no meio literário da época, predominantemente masculino, e defender os direitos das mulheres na sociedade. Considerada precursora (2) do feminismo, foi a primeira mulher de letras francesa a viver do seu trabalho. 




A segunda imagem, datada em 1180d.C, apresenta Herrad de Landsberg em atividade até então exclusiva do sexo masculino: autora de uma enciclopédia cientifica, poeta, escritora. É a primeira enciclopédia que foi claramente escrita por uma mulher e foi um dos mais renomados manuscritos do período. Contém poemas, ilustrações, músicas e desenhos de textos clássicos dos escritores árabes. 































































Atividades:   (responda em folha separada)

1.       Escreva sobre cada uma das palavras abaixo:
a.       Liberdade;
b.      Feminina;
c.       Direito;
d.      Idade Média.
2.       Responda:
a.       Quais eram as características que definiam a mulher no período medieval?
b.      Explique porque a sociedade era patriarcal.
c.       Qual a relação da mulher medieval com o mito de Eva?
d.      Qual a influência exercida pela Igreja sobre a sociedade da época?
e.      Quais eram as características de Maria que deveriam ser seguidas pelas mulheres?
f.        De que forma mulheres como Herrad de Landsberg começaram a mudar esta situação?
g.       As mulheres sofriam algum tipo de violência por parte dos homens?
h.      Que aspectos do tratamento masculino com mulheres na Idade Média permanecem até os dias de hoje?
i.         Hoje no Brasil são altíssimos os índices de feminicidio (assassinatos de mulheres) e violência contra a mulher, sendo os homens muitos (namorados, amantes, maridos ou ex-companheiros) os principais agressores. Por que os homens são os principais agressores? Justifique sua resposta.
j.         Quais as relações entre a violência contra a mulher e o machismo? Você já foi vitima ou presenciou violência contra as mulheres na escola ou em casa? Cite um exemplo.
k.       Comente a frases: Briga de marido e mulher não se deve meter a colher?
l.         Vocês conhecem a Lei Maria da Penha? Qual a importância da Lei Maria da Penha no combate à violência contra a mulher?

3.       Observe atentamente as imagens e interprete-as criticamente:
a.       A primeira imagem retrata o momento em que Christine de Pisan presenteia a rainha com o seu livro. Porque escrever era uma atividade exclusiva dos homens? Qual a importância das mulheres escreverem sobre elas mesmas? Porque é importante para uma sociedade ouvir os excluídos?
b.      A segunda imagem retrata Herrad de Landsberg segurando um manuscrito. Por que Herrad pode ser considerada uma mulher que questionou o patriarcalismo e o machismo da Idade Média?


                                      Baseado no trabalho realizado por Luiz Carlos Vidal

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